um rato que fugiu da gaiola

Às vezes o mundo dá a volta, gira rápido, e tu vais atrás, atado pela corda da vida, algemado e sorrateiro, como um rato que foge da gaiola.

Seria tão mais simples se tivesse ficado quieta no meu canto, acalentando a dor, enquanto me enchia de rancor e medo por dentro, deixando que todas as minhas artérias sucumbissem ao sabor de um vento que vem de norte. Mas a verdade é que não aguentei, fui frágil e deixei que o coração falasse rápido ao teu ouvido; e no fim, fugi, corri o mais rápido possível para que não me achasses, como um rato, um rato que foge da gaiola.

 E se queres a verdade, continuo com medo, o meu cérebro está reduzido a flashback's, pequenas metragens que ficaram armazenadas numa gaveta qualquer, pedaços de papel rasgados que resistiram à erosão do tempo, coisas do passado que o presente não trás, nem muito, nem pouco.

 Sei que gostas mais das minhas histórias de encantar, doces, quietas, que soam como melodias de crianças aos teus ouvidos. Sei que não te retrais quando as minhas palavras são às cores e cheiram a rosas, quando tenho no rosto estampado o maior dos sorrisos, a alma lavada e a aura fresca. Mas agora, quando escrevo linhas carregadas de dor, escondes-te ao canto, encolhes-te e recusas enfrentar-me, como um rato que fugiu da gaiola.


p.s: és um homem, ou és um rato ?