engenho

 Lá estás tu, a desinquietar-me o espírito. O espírito e o meu corpo sossegado, assim como o meu coração cheio de muros altos e becos escuros onde nunca ninguém entrou. Lá estás, quieto a remexer-me o engenho, meio adormecido pelo tempo que passamos longe um do outro, onde não te escrevo nem te recito poemas.
Tempo em que gosto de pensar que te exorcizei, aniquilando esse cheiro a mel das minhas palavras e das minhas mãos, como se fosse possível esquecer-te.

 O amor não é para ser esquecido, muito menos para ser arrumado numa gaveta e já está. Logo o meu amor por ti, que é diferente de tudo o que já tive em mãos. Só que há nas pessoas uma forte tendência para o vazio, para o fim, para todo aquele sofrimento que surge aliado às memórias e a tudo aquilo que devia ter sido vivido mas não foi. Há também em mim todo o ressentimento de quem deveria ter mudado o mundo, mas não o fez. E lá agora porque é impossível voltar atrás, o som da tua voz - que me alicia, confesso - não se extingue, não se torna mais débil e não me abandona durante o sono. Sabes porquê? Porque o amor só cresce, não diminui. Quando fica mais pequenino, já não é amor.