suspiros

 Depois de algum tempo a remexer na ferida, as lágrimas - inevitáveis - acabaram por ceder. E como eu gosto de ser o sol, de me rir e de saltar para dentro da felicidade dos outros, e no fim do dia não saber qual a melhor cama para adormecer (se a tua, se a minha).

Na minha cabeça existem agora projecções de um futuro incerto, sem as nossas coisas espalhadas pela casa, e nós a morrer de amores naquela varanda que bem que podia ser nossa, a contar pelas vezes em que lá fomos felizes. O sono tarda a chegar, e chega mal. Sonho contigo e estás tão longe que não te consigo alcançar. (Queria tanto contar-te os meus sonhos)

 No meu corpo o sangue escorre com cansaço, já não te sinto a borbulhar em mim e o teu cheiro - a mel, garanto - deixou de me afogar na paz de sempre. Morro, morro de saudades de te ter comigo da forma mais absoluta possível, ver-te correr sobre a minha pobre alma despida para mais tarde adormeceres ao meu colo. E esse respirar profundo, dá-me a mim a minha própria vida.

 Não é justo, amar assim. Não é justo ter de escolher entre o meu coração e o teu, pois vou sempre escolher-te. Mesmo que a minha frieza trespasse essa doçura infantil, serei sempre escrava dos teus suspiros. Mesmo que esteja desfeita, mesmo que a felicidade seja um marco tão longínquo que o tempo me faça desistir, irei sempre optar por ver-te sorrir, porque só isso me aquece o coração.

 Tenho as memórias mais perfeitas de nós os dois. Tenho a marca visível de um amor frágil do tamanho do céu, que me enche as cavidades do peito como mais nenhum. Tenho-te a ti, como mais nenhuma outra mulher terá, e isso é a garantia de que tudo o que vivemos será nosso, para sempre.