mel

 Quando comecei a escrever queria dizer que tinha saudades tuas. Queria ter-te perto e mostrar-te que até podíamos mudar o destino. Talvez o mel dos teus olhos me deixasse muda, perdida naquele que é o meu amor por ti na mais pura das suas formas.

Depois, depois pensei que o melhor seria despedir-me. Deixar-te como me deixas-te e permitir que baloiçasses o resto da vida na corda bamba. E enganas-te se pensas que não posso querer as duas coisas em simultâneo. Sempre quis esquecer-te e recordar-te ao mesmo tempo, como quem lambe as lágrimas por prazer.

 Tive medo, é verdade. Medo de fechar esta carta sem te dizer metade daquilo que predestinei como certo e correcto. Talvez na tentativa vã de te fazer recuar um pouco para te aninhares em mim, em nós. E, certamente que ficarei com coisas por dizer. Fico sempre, quando te escrevo faço-o infinitamente porque há sempre algo mais dentro de mim, para ti.

 Quero que saibas que estou bem. Inteira, como só tu me conheces. Talvez continue com vontade de te dizer que tenho saudades tuas, que o meu coração me rebola no peito como um novelo de lã e que ainda não achei forma de cortar os laços que nos unem. E muito provavelmente nunca encontrarei, e isso, isso tu sabes.

Queria ainda dizer-te que não chorei. Deves imaginar-me todos os dias perdida em livros e folhas de papel. Sabes que a minha magia acontece aqui. E não precisei de lágrimas para lamentar a tua partida. Já as verti todas noutros tempos e julgo que voltar lá será como acordar todos os esqueletos que guardo no armário. E de esqueletos, está o mundo cheio.

 No fundo, estou a despedir-me. Não do que te escrevo, mas do meu amor por ti. Percebi que dediquei todo este tempo a uma flor estéril e não posso remar mais contra a maré. Talvez ainda te escreva muitas vezes, tenho uma aorta tramada e não há nada que possas fazer. Quanto a ti, espero que te cuides e que cuides de quem cuida de ti. Que sejas feliz, todos os dias da tua vida. Porque tens um coração às cores, e isso, isso ninguém te pode tirar.