leões

 A vida como a conhecemos acaba. A "vidinha" esgota-se, esfuma-se, vai arranjar significado. Não somos mais nem menos especiais. Somos, apenas. Com mais ou menos capacidade somos lançados aos leões. Ao rugido da vida real. Da azáfama, da correria. Não fugimos porque fomos treinados. Aguentamos com destreza porque nada é pior do que o conformismo que outrora nos coube e nos engoliu.  

 Procuramos o amor porque nos agita. Porque nos move, nos tira dos dias cansativos e das noites tranquilas. Já ninguém quer noites sossegadas. Queremos acção, batimentos descontrolados pelos gemidos e pelo sentimento. Queremos amor porque nos tira do sério e nos verte as lágrimas. Porque aniquila qualquer tipo de normalidade que tenhamos guardada entre as artérias. Porque mexe e porque é bom. Digam lá o que disserem.

 Curioso como dependemos uns dos outros. Como os gestos nos ferem ou nos enaltecem. A capacidade que temos para dar tudo o que é nosso num ápice quando toda a vida fomos egoístas. Como nos transformamos e nos melhoramos. A doce forma como acreditamos e nos deixamos ir em braços e palavras alheias. Como se o mundo acabasse amanhã.

Nada se compara aos limites do sentimento. Às mazelas que a entrega total e falhada nos deixa para o resto da vida. Sim, porque depois do amor nos bater com a porta na cara voltamos a ter vida. Voltamos à "vidinha" e evitamos os leões, os tigres e toda a espécie de felinos. Fechamos a concha e guardamos a pérola no coração. Até que a adrenalina e a vontade de saltar a ravina nos assalte novamente. Até que deixemos de ser comuns. Até que nos amem, outra e outra vez.